Se alguém viu o
padre João Vitor Freitas dos Santos passando apressado, com alguns livro
debaixo dos braços e o pensamento distante, não se surpreenda. Ele está
realmente com o tempo muito apertado, pois iniciou nesse ano mais uma etapa de estudos.
Agora, está realizado mestrado em Direito Canônico. Mas, não se preocupem, ele
está muito feliz. A ideia é que, além desse crescimento pessoal, seus estudos
se revertem em benefícios para toda Diocese.
E mesmo com
tanta correria, ele arrumou um tempinho para conversar com a Pascom da Paróquia
catedral São João Batista. Nesse papo, ele explica que “o Direito Canônico é
muito importante para compreender a missão da Igreja, pois sendo uma realidade,
além de divina, também humana, possui necessidade de organização”. E completa: “precisamos,
na Diocese, de mais formação na área do direito canônico, para que possamos
estruturar nossa câmara eclesiástica e, quem sabe no futuro, termos nosso
próprio tribunal diocesano”.
A Pascom também
aproveitou e conversou com o padre João Vitor sobre como está sendo sua
experiência nesse primeiro ano de sacerdócio, seus desejos e a importância da
fé nesses tempos de pandemia. “As dificuldades não nos afastam da fé (a não ser
que seja uma fé muito superficial), mas a faz crescer. Fé não é uma “anestesia”
ou um “sentimento legal” que nos faz sentir bem apenas. Fé é confiar na ação e
providência de Deus em nossas vidas”.
Confira mais
detalhes na entrevista baixo.
Pascom – Quando
começaram seus estudos e em que instituição?
João Vitor – Meus estudos de mestrado em Direito Canônico
iniciaram em fevereiro deste ano. As aulas são sempre na primeira semana de
cada mês, de segunda a sexta-feira, manhã e tarde. Provas e aula de Latim são
na parte da noite. Sendo assim, esta semana é um intensivo de aulas, no momento
online, mas depois voltam a ser presenciais no Instituto Superior de Direito
Canônico Santa Catarina em Florianópolis-SC. Nas semanas posteriores preciso
ainda fazer leituras e trabalhos acadêmicos.
Pascom – Quais
foram os temas de seus trabalhos de conclusão nas graduações de Filosofia e de
Teologia?
João Vitor – Na graduação em Filosofia, optei por uma
linha dentro da Antropologia Filosófica chamada “personalismo”, mais
precisamente o personalismo francês da metade do século XX, com o filósofo
Emmanuel Mounier. O personalismo é uma corrente filosófica que busca
compreender a pessoa em seu mistério de relação. Pessoa é relação. E desta
relação derivam vários aspectos de seu ser: comunitário, comunicativo,
espiritual, etc. Esta filosofia influenciou fortemente o Concílio Vaticano II.
Na Teologia,
depois de ter feito também uma especialização em direito matrimonial canônico
(o que me fez ter contato com “matrimônios que não deram certo”, e daí uma
certa crise pessoal) decidi estudar algo mais positivo, na linha da teologia
pastoral. Estudei a teologia do
sacramento do matrimônio e a atuação da pastoral familiar na preparação dos
casais para este sacramento. Foi feita uma pesquisa de campo na Diocese de
Montenegro em 2017, quando todos os noivos que participaram de cursos de noivos
daquele ano foram entrevistados.
Pascom – Quais
são seus objetivos com o mestrado? Qual é a importância de se buscar essa
qualificação?
João Vitor – Não imaginava voltar a estudar tão cedo. A
ideia de iniciar o mestrado surgiu do conselho de presbíteros, juntamente com
nosso bispo diocesano. Precisamos, na Diocese, de mais formação na área do
direito canônico, para que possamos estruturar nossa câmara eclesiástica e,
quem sabe no futuro, termos nosso próprio tribunal diocesano. Hoje, os
tribunais eclesiásticos trabalham quase com apenas causas de declaração de
nulidade matrimonial, mas possuem outras funções.
O Direito
Canônico é muito importante para compreender a missão da Igreja, pois sendo uma
realidade, além de divina, também humana, possui necessidade de organização. O
direito é uma ciência que “organiza” os direitos e deveres de todo o Povo de
Deus. O direito busca a justiça, e a justiça é básica para a realização da
missão da Igreja.
Pascom – No que
consiste a pesquisa que você pretende desenvolver nos seus estudos? Como ela
pode reverter para a comunidade?
João Vitor – Vou cursar este mestrado nos próximos três
anos. Ainda estou tendo os primeiros contatos. Ao final do curso preciso
escrever uma dissertação, mas ainda não sei o tema.
O estudo sempre
enriquece! O direito canônico, de modo concreto, está no dia a dia da nossa
vida eclesial. Compreender bem esta dimensão significa ajudar a Igreja a
realizar sua missão conforme a finalidade que foi pensada por nosso Divino
Fundador. Sendo assim, alcançar justiça nas relações, para que todos exerçam
sua função para o bem de toda Igreja.
Pascom – Em
2017, uma pesquisa realizada por você sobre a preparação para o sacramento do
matrimônio ajudou na reflexão e elaboração de um subsídio do Setor Família de
nossa Diocese e chegou a render até uma reportagem no Vatican News. Gostaria
que recuperasse um pouco desse seu trabalho e, passando esse tempo, avaliasse
os frutos dessa iniciativa.
João Vitor – Como disse anteriormente, depois de estudar
direito matrimonial canônico entrei em certa “crise”, pois lidava com os
matrimônios que já não tinham perspectiva de continuar. A ideia desta pesquisa foi
compreender melhor a pastoral familiar e como estava sendo realizado este
trabalho em nossa diocese. Foi realmente muito positivo e enriquecedor. Me fez
gostar muito da pastoral familiar, que hoje, inclusive, sirvo como referencial
eclesiástico. Anima muito minha vocação o trabalho com famílias.
Desde a
pesquisa, foi elaborado um subsídio com temas e propostas para os Encontros de
Preparação para a Vida Matrimonial. Estamos ainda buscando aplica-lo, mas já
demos grandes passos.
Pascom – Aqui
na Paróquia, você tem trabalhado especialmente com jovens e com casais. O que
tem achado dessa experiência?
João Vitor – Minha vocação e fruto de grupos de jovens
(CLJ para ser mais exato) e estudei pastoral familiar na Teologia. Gosto muito
deste serviço. A pandemia nos limita muito, mas não impede que algo seja feito.
Por isso, com a juventude, estamos com o projeto “Desperta jovem”, para animar
a vida de oração e participação deles em meio a pandemia.
Com os casais
auxilio, junto com o padre Diego, do projeto “Família Fortalecidas” e também
estamos pensando em um Encontro de Preparação para a Vida Matrimonial online
para este ano.
Pascom – E, de
modo geral, como tem sido sua experiência aqui na Paróquia? O que mais lhe
surpreendeu?
João Vitor – Recebi com muita alegria a notícia de que
iniciaria meu ministério sacerdotal na Paróquia São João Batista. Desde os
tempos de CLJ já conhecia várias pessoas aqui, logo já me sinto em casa. Sinto
pesar de até agora não participar de nenhum retiro de jovens, casais e tantas
outras atividades que esta paróquia proporcionaria se não fosse a pandemia, mas
mesmo assim, não perco a alegria e dentro do possível, mantenho contato com o
povo.
Pascom – O ano
de 2020 foi muito difícil para todos em função da pandemia e esse foi
justamente seu primeiro ano de sacerdócio. Como isso impactou essa sua
experiência no presbitério?
João Vitor – Pois é, foram três meses de “vida sacerdotal
normal” antes da pandemia. No início temos muita expectativa e vontade de
trabalhar. Mas, as pastorais e movimentos iniciam seu trabalho em meados de
março na paróquia. Então, logo antes de começar propriamente os serviços
tivemos que parar e nos reinventar. A pandemia já faz parte do nosso quotidiano
e me faz viver o sacerdócio de um modo mais desafiador. De qualquer forma é
tudo novo para mim: ser padre e estar vivendo uma pandemia.
Pascom – Quais
os desafios para, como cristãos, mantermos a esperança em meio a tempos tão
difíceis como esses?
João Vitor – Penso que neste contexto a fé se faz mais
necessária. É justamente nas tribulações e contrariedades que somos provados e,
com isto, a fé torna-se mais madura. As dificuldades não nos afastam da fé (a
não ser que seja uma fé muito superficial), mas a faz crescer. Fé não é uma
“anestesia” ou um “sentimento legal” que nos faz sentir bem apenas. Fé é
confiar na ação e providência de Deus em nossas vidas. A fé nos ajuda a
enxergar e viver com esperança as realidades difíceis.
Pascom – Quais
os desafios da Igreja nesse século XXI? Como manter a nossa comunidade unida em
meio a pandemia?
João Vitor – Este é um grande desafio. Nossa fé e
essencialmente comunitária. Não se pode pensar um cristianismo EAD, online. Então,
usamos de todos os meios possíveis para manter a comunidade unida: transmissão
de Missas, homilias, cursos, etc... mas tendo em vista que a dimensão
comunitária e presencial precisa ser reestabelecida após a pandemia.
Um aspecto que
foi bastante lembrado e que a pandemia oportunizou, foi a dimensão da vivência
do que chamamos de “Igreja doméstica”, ou seja, a família. É importante que
cada família compreenda que é Igreja e lá deve ser um lugar de encontro com
Deus. E da união das famílias é que se forma nossa comunidade.
Pascom – Para
encerrar, diga-nos um pouco de quem é João Vitor Freitas dos Santos e o que ele
deseja.
João Vitor – Sou um jovem (28 anos) que inicia o
ministério sacerdotal. Tenho profunda ligação com minhas origens familiares,
espirituais e comunitárias. Cultivo a alegria da vocação e os amigos(as) que
Deus coloca em meu caminho. Procuro viver cada momento com intensidade,
dedicando minha vida ao serviço do Reino, para que Jesus seja conhecido e
amado. Me sinto feliz, realizado, e desejo que as pessoas que Deus coloca em
meu caminho façam esta experiência de felicidade.
Meu desejo é
ser um bom padre. Tenho muitas limitações e pecados, mas confio na misericórdia
de Deus que me chama sempre a conversão. Ser padre é um grande mistério, a
melhor definição que já escutei é de que “carregamos um tesouro em vaso de
argila”. O tesouro é Cristo, eu sou o vaso de argila, frágil e limitado. Mas
mesmo na limitação, muitas vezes fiz a experiência do que Deus realiza a partir
deste ministério. Quero, a partir de meu serviço e estudo servir ao Povo de
Deus que me for confiado.
Peço a oração de toda a comunidade para nunca perder este foco.
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