Recentemente, a Paróquia São João Batista de Montenegro comemorou 152 anos de fundação. Hoje, a cidade celebra 150 anos. Igrejas e paróquia mais antigas do que os próprios municípios em que estão localizadas não chega a surpreender, mas, no caso da São João Batista e Montenegro a criação de um está diretamente relacionada a outra. Por volta da segunda metade da década de 1850, moradores e fazendeiros da região da Vila do São João de Monte Negro se unem para constituir uma capelinha. Essa capelinha acabou sendo erguida ao fim da Rua da Praia, hoje rua Dr. Flores, em terreno doado por Tristão José Fagundes.
Tristão, figura célebre na história de Montenegro, recebe uma área de terras de herança da família de sua esposa, Bernardina Maria de Araújo. A área ia mais ou menos do Cais do Porto, a partir da margem direito do Rio Caí até, numa linha reta, próximo aos morros e elevações, entre a região onde hoje ficam as localidades de Alfama e os bairros Faxinal e Imigração, tendo o cume do Morro São João como limite lateral. Na época, a parte mais nobre ficava junto ao Rio Caí, dada a movimentação do porto. O resto das terras, entre elas o alto da colina, já perto do Morro, eram como chácaras, mas de pouca produção. O casal Tristão e Bernardina passa a viver numa velha casa mais ou menos onde hoje é a escola Delfina Dias Ferraz. Muito possivelmente Tristão pensava em vender lotes dessas terras, mas, dada a distância do Rio, haveria pouca procura, embora o local fosse rota de viajantes e contingentes de homens e tropas que lutaram na Revolução Farroupilha.
Tristão e Bernardina viveram numa casa onde é hoje a escola Delfina Dias Ferraz
Só que foi justamente a construção da primeira capela católica – a mais próxima era somente a Paróquia Bom Jesus, de Triunfo – que despertou o interesse na compra dos lotes vizinhos. Há registros de construção da capelinha em 1855, época em que surgiram as primeiras casas. Em 1861 começa a construção da antiga Matriz e toda essa região se torna um vilarejo com significativo movimento, agitação que antes só ocorria nas margens do Caí. Em 1870, o vilarejo comemorou a volta de moradores da região que lutavam na Guerra do Paraguai (que vai de 1864 a 1870), sob o comando do Tenente-coronel Apolinário Pereira de Moraes. Para se ter ideia do tamanho da época da comemoração, Campos Neto, em seu livro sobre a origem de Montenegro, relata que na região do alto da colina havia cerca de 150 construções.
Com a Igreja, centro de Montenegro se deslocou da Beira do Rio para o alto da
colina. Na foto, a antiga Matriz ainda de pé, na frente da nova Igreja
Se por um lado a capelinha trouxe vida para essas terras, por outro a criação da Freguesia de Monte Negro, que deixa de ser uma vila, em 1867, pressiona as autoridades eclesiais para elevar a igrejinha a condição de Paróquia. Só que os bispos e autoridades da época não gostaram e entraram em atrito com o governo da província, que foi quem tornou a vila uma freguesia. Mas, depois de muita discussão e pressão de fiéis católicos, em abril de 1871 a Igreja Católica sai na frente da autoridade política da província do Rio Grande do Sul e cria a Paróquia São João Batista de Monte Negro. Na época, como Igreja e Estado andavam ainda juntos, apesar de iniciarem certo distanciamento, ter uma paróquia era apenas privilégio para municípios e não freguesias. Assim, em dois anos de articulações políticas e pressões de moradores locais e autoridades religiosas, em 5 de maio de 1873, Montenegro é elevado à condição de município, tendo essa como sua data de fundação política.
Letreiro em uma das entradas da cidade
Afirmar que Montenegro se torna município por pressão da Igreja é um tanto presunçoso, pois também havia movimentos importantes, entre eles da própria comunidade luterana. Mas, é inegável que nossa paróquia surge e cresce junto com um povoado, que depois vira cidade e vai, com o passar dos anos, deslocando o centro da cidade das margens do Caí para a região onde é hoje. Por isso, celebrar esses 150 anos de Montenegro é reviver nossa história como comunidade paroquial e pensar que juntos foi possível construir uma cidade que se atualiza com o passar dos tempos. Nos unindo e reconhecendo como comunidade paroquial e municipal somos mais fortes e, juntos, como foi no passado, mais potentes para construir um futuro em comum.
Para celebrar os 150 anos de Montenegro, será celebrada uma missa especial às 18h30min na Catedral. Todos são convidados.
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