EM DEUS NÃO HÁ MERITOCRACIA


EM DEUS NÃO HÁ MERITOCRACIA

Detalhe do pé de Santo Agostinho "pisando" (ou seja, refutando) a heresia pelagiana. Obra de Philippe de Champaigne, ano de 1645.

Entre os anos de 380-390 d.C. surgiu em Roma um monge britânico chamado Pelágio, que logo fez muitos adeptos e simpatizantes de suas ideais. Quais eram estas ideias? A principal seria de que o homem era totalmente responsável por sua própria salvação, ou seja, que cada pessoa poderia, com seu próprio querer e vontade alcançar a salvação. Isso diminuía (quase anulava) o papel da graça divina. Chegavam a afirmar que Cristo apenas deu o exemplo de como alcançar a salvação, mas que não a tinha conquistado para nós por meio da cruz. Segundo a heresia pelagiana, a salvação era alcançada como mérito (recompensa pelo esforço). Santo Agostinho se opôs fortemente a estas ideias, afirmando que nós herdamos o pecado original dos nossos primeiros pais e, que, sem a graça de Deus, seria impossível a salvação. Ou seja, segundo Agostinho e a fé da Igreja, só somos salvos porque Deus é bom e nos concede Sua graça que nos justifica e redime.

 

Mas por que estamos contando esta história? Porque parece que a heresia pelagiana se repete, retorna nos nossos dias com nova roupagem, nova maquiagem. Percebemos esta tendência no campo político e social quando se fala em meritocracia, mas não menos presente no contexto religioso. Sobre isto o Papa Francisco afirma: “Ainda há cristãos que insistem em seguir outro caminho: o da justificação pelas suas próprias forças, o da adoração da vontade humana e da própria capacidade, que se traduz numa autocomplacência egocêntrica e elitista, desprovida do verdadeiro amor”. (Gaudete et Exsultate, n° 57) “Quem se conforma a esta mentalidade pelagiana ou semipelagiana, embora fale da graça de Deus com discursos edulcorados, ‘no fundo, só confia nas suas próprias forças e sente-se superior aos outros por cumprir determinadas normas ou por ser irredutivelmente fiel a um certo estilo católico’”. (Gaudete et Exsultate, n° 49) Cuidado com esta postura nada cristã!

 

Esta é a boa nova central da Liturgia deste Domingo: Deus quer que todos sejam salvos! Mas Ele sabe da nossa limitação e incapacidade de ação por nossas forças; por isso, a obra da salvação é pura graça que nos justifica e capacita para a santidade. Neste contexto podemos entender o Evangelho (Mt 20, 1-16a): Deus é o Patrão que sai para contratar trabalhadores para a sua vinha, ou seja, para comunhão com Ele. Não importa quem chegou primeiro, quem trabalhou mais ou menos, todos receberão o mesmo pagamento. Deus não pensa na lógica da meritocracia, mas na lógica da graça e do perdão (Cf. Is 55, 6-9). A salvação, por mais que exija nossa participação (o trabalho na vinha), não é obra nossa. É graça de Deus. Que o Senhor nos ajude a superar esta mentalidade meritocrática/pelagiana que as vezes invade nosso coração e a compreender que “Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos”.

 

Pe. João Vítor Freitas dos Santos

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