Talvez, muitos de vocês já tenham visto vídeos de apresentação do projeto do columbário que será construído na Catedral São João Batista e, até mesmo, tenham uma ideia geral de que será um ambiente para guarda de cinzas de pessoas que foram cremadas, ao invés de sepultadas em cemitérios. Mas, muito possivelmente, também tenham dúvidas sobre como funciona esse espaço e porque, agora, a Paróquia Catedral São João Batista decidiu criar um espaço de repositório de cinzas de paroquianos e seus entes falecidos. Por isso, vamos tratar de algumas dessas dúvidas aqui.
Há, ainda, quem afirme que a Igreja Católica Apostólica Romana não permite que seus fiéis sejam cremados. Isso, de fato, tem raiz em uma perspectiva teológica que indica que os corpos devem ser preservados em sepulcros na perspectiva de que haverá uma volta e até então corpos não podem ser violados. Acontece que o mundo vai sofrendo muitas transformações, há estudos que passam a ser revistos e aprofundados e a própria sociedade e sua relação com o meio ambiente requerem transformações ao longo dos tempos. Afinal, até o início da chamada Modernidade, por volta dos anos de 1500, ainda era proibido que mesmo estudiosos de medicina violassem corpos doentes e mesmo cadáveres. Hoje, chegamos a tomar como inconcebível isso, pois muitos tratamentos de saúde e a qualidade de uma vida longa e saudável dependeram de muitos estudos a partir dos próprios corpos humanos.
É evidente que a Igreja sempre segue tomando o corpo humano como criação Divina e obra digna de respeito. A própria ética médica preza por isso. Além disso, até o século XVIII, eram permitidos sepultamento dentro de Igrejas, ou mesmo em terrenos vizinhos sem qualquer preocupação sanitária. Com o passar do tempo, o avanço dos estudos provaram que essa prática ameaça a saúde coletiva. Foi então que se passou a criar cemitérios com regras sanitárias muito claras. A Igreja, como uma instituição milenar, mas que não pode negar a transformação dos tempos, reuniu teólogos e outros estudiosos que reviram e, dentro dos preceitos da fé cristã católica e do Direito Canônico, readaptaram os rituais de exéquias e sepultamentos de seus fiéis e entes queridos.
Mas, e a cremação?
Essas transformações no que diz respeito aos sepultamentos servem como exemplo para compreendermos, também, as mudanças com relação a cremação. Na Antiguidade, quando da cristianização do Império Romano, a cremação era muito associada a práticas pagãs, além de ser contrária a inviolabilidade dos corpos. Mas, os tempos são outros. O próprio crescimento populacional tem trazido aos cemitérios problemas de espaço físico para túmulos e sepulcros. Aliás, uma realidade no mundo todo. Quem conhece o cemitério de Montenegro sabe bem de perto como é essa situação. Além disso, também em decorrência do aumento das populações, sepultar entes queridos tem se tornando também um problema ambiental.
E atenta a tudo isso, a Igreja passou a se debruçar em estudos sobre o tema. Foi assim que tanto teólogos quando especialistas em Direito Canônico assessoraram autoridades da Congregação para Doutrina da Fé, mais alto grupo da Igreja Católica que se dedica a refletir e analisar questões de doutrina, sem desconsiderar a fé do povo de Deus no mundo atual, na elaboração da Ad resurgendum cum Christo. É uma instrução, um documento chancelado pelo poder do Papa que atualiza tanto questões tanto de sepultamentos quanto cremações em consonância com a realidade que vivemos.
Saiba mais lendo o documento Ad resurgendum cum Christo completo aqui
Em linhas gerais, o documento preserva a essência de que o corpo é criação Divina e que deve, mesmo depois da morte, ser guardado para a ressurreição em Cristo. Porém, essa guarda passa a ser dissociada a ideia de preservação em sepultura. Ou seja, o corpo deve ser posto em guarda num lugar de memória. Isso porque respeita a tradição milenar da Igreja e faz com que as famílias tenham uma referência para fazer memória, seja em orações ou homenagens a entes queridos. E tanto o caso de sepultamento, quanto cremação.
Assim, é errado afirmar que hoje a Igreja Católica Apostólica Romana não permite a cremação. Pelo contrário, a cremação é permitida, mas não é recomendado que as cinzas sejam dispersas em qualquer lugar, como um rio, lago, montanha ou campo. Além do mais isso também não está de acordo com as regras sanitárias. Em alguns países do Oriente há, inclusive, fiscalização, multa e pena para quem espelhar cinzas em locais públicos.
A importância da memória
Uma outra tradição muito importante na Igreja Católica é a memória aos mortos. É por isso que celebramos no Brasil, no dia 2 de novembro, o Dia de Finados. A ideia é fazer memória por todos àquelas e aqueles que se já se foram e deixaram seus legados, na família, na comunidade e por onde passaram. Acreditamos, como cristãos católicos, que recordar essas pessoas falecidas não é reviver a dor da morte. Pelo contrário, é celebrar a vitória da vida sobre a morte. Jesus Cristo nos incita a essa reverência de sua vitória sobre a morte pela própria Ressurreição. No fim das contas, é isso que nos faz cristãos.
Nesse mesmo sentido, é fundamental que tenhamos um lugar de memória dos que se foram. No México, por exemplo, famílias constituem altares com fotos de gerações e gerações que parentes que já se foram. E mesmo por aqui, no interior, ainda vimos quadros nas paredes relembrando os antepassados. Isso é, também, celebrar a vida. Mas, por mais que preservemos esses hábitos, há a necessidade, do ponto de vista também religioso, de um lugar para os mortos.
Lugares de memória em altares domésticos no México
É por isso que a Igreja desaconselha a aspersão das cinzas em campos, lagos, rios, montanhas, etc. Por mais que seja um desejo do ente, e muitas vezes um ritual bonito e cheio de significado para àquela família, com o tempo essa memória vai se esvaindo. Pense num ritual assim para seus pais. Você, seus filhos talvez visitem e preservem esse lugar onde as cinzas foram espalhadas. Mas será que seus netos e os filhos deles conseguiram manter viva essa memória de seus pais num lugar tão amplo e disperso? É comum, e até natural, que não.
No interior do Brasil, fotos de antepassados também são locais de memória
Columbario se apresenta como alternativa
Muitas pessoas que optam pela cremação preservam as cinzas em casa, ou mesmo enterram em espaços privados de sua propriedade. Mas, isso ainda deixa dúvida sobre como preservar os restos mortais, quando mantidos em urna funerária, e mesmo o que há de fazer se a família se desfaz da propriedade que guardas as cinzas enterradas – aliás, enterrar as cinzas de forma doméstica ainda suscitam uma série de dúvidas do ponto de vista de vigilância em saúde. É respondendo a essas dúvidas que esses espaços têm surgido, os columbários.
Esses espaços recebem as urnas funerárias e as preservam, numa guarda responsável e de acordo com toda a legislação vigente acerca do tema. Assim, com essa preocupação e com a intenção a criar um lugar de memória, de encontro e oração que a Paróquia Catedral São João Batista está criando seu columbário. Será no espaço da antiga sacristia, com entrada à direita do altar. Os lóculos serão comercializados por valores que ficam entre cinco e doze mil Reais. cada lóculo terá a capacidade de acomodar quatro urnas com cinzas. Depois, cada responsável terá uma taxa atual para manutenção, similar ao que já ocorre com os túmulos em cemitérios.
Dentro do columbário, haverá uma espécie de prateleiras e dentro será posta a urna com as cinzas do ente querido. Esse local será fechado e a família terá acesso. Assim, se desejar, poderá abrir e retirar a urna para limpeza e ou em momentos de oração. Haverá ainda espaços para rezar e mesmo para quem quiser permanecer lá por um tempo em silêncio. Atualmente, o projeto do columbário da Paróquia está em fase de comercialização dos espaços. Com esses primeiros recursos, será feita toda reforma e adaptação da sala.
Projeção do espaço do columbário na Catedral
Para saber mais sobre a comercialização e projeto acesse aqui
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